A Criança
É bastante comum que a criança chegue ao psicólogo já carregando algum "diagnóstico" previamente atribuído. Vivemos em uma época marcada pela busca incessante por classificações, na qual a criança, muitas vezes, é reduzida a um conjunto de características que podem ser observadas, mensuradas e tratadas como se fosse um objeto. Palavras como “verdade”, “diagnóstico” e “cura” fazem parte do pensamento calculante da ciência moderna e da lógica técnica, e não raro aparecem também no discurso dos próprios pais.
A família e a escola trazem consigo compreensões moldadas por seu contexto histórico e social. Qualquer manifestação da criança que escape aos padrões definidos por essas instituições — e pela cultura de modo geral — costuma ser vista como um desvio, um problema a ser corrigido. Assim, ela é encaminhada ao profissional com o objetivo, muitas vezes velado, de ser ajustada, enquadrada dentro daquilo que se convencionou chamar de "normalidade".
A Psicoterapia Hermenêutica Com Crianças
Na abordagem fenomenológico-existencial hermenêutica, olhamos para a criança muito além de qualquer rótulo, sintoma ou diagnóstico que lhe tenha sido atribuído ou que se espere superar. No setting clínico, ela encontra, antes de tudo, um espaço de cuidado, de acolhimento de seu existir.
Na psicoterapia hermenêutica, o espaço é construído para que a criança possa brincar, expressar-se e, sobretudo, desvelar seu modo de ser no mundo. Cada criança, ainda que nasça em um mesmo contexto histórico, cultural e econômico, carrega singularidades em seu modo de agir, pensar e se relacionar com os outros — e, por isso, não pode ser reduzida a padrões ou modelos. No entanto, todas estão imersas na era da técnica, que frequentemente dificulta que se apropriem de si mesmas, de sua própria maneira de ser. Quando essa apropriação não se encaixa nos moldes da família, da escola ou do senso comum, ela costuma ser interpretada como algo que precisa ser corrigido, gerando tentativas de enquadramento.
Diante disso, cabe ao(à) psicólogo(a) hermenêutico abrir um espaço real para que a criança seja quem ela é, livre das compreensões pré-estabelecidas, sem se submeter às lógicas reducionistas da técnica e da normatização.
Cuidar é permitir ser...
Cuidar de uma criança na clínica é oferecer a ela um espaço onde possa simplesmente ser. É acolher sua existência, sua singularidade, e caminhar junto no desvelamento de quem ela é, para além de qualquer expectativa externa.
Se você deseja saber mais sobre como funciona a psicoterapia infantil, ou se sente que esse cuidado faz sentido para sua criança, entre em contato.